bastaram segundos para me permaneceres na pele (para sempre?), sem possível retorno. tudo aconteceu numa banal tarde de verão, supunhamos. ao longe vi os contornos do teu sorriso e o esvoaçar dos teus caracóis com o vento a não sei quantos quilómetros por hora. magicamente, um singelo adeus a pequenos metros de distância mudou o nosso destino até então traçado. embora já nos conhecessemos, naquele momento pareceu amor à primeira vista e indescritívelmente era um sinal de que tempos únicos se aproximavam.
no início os sorrisos eram discretos e envergonhados, as palavras saíam com receio do impacto que pudessem causar, os olhares brilhavam como nunca antes tínhamos visto e os corações, esses já haviam sintonizado um no outro, já eramos um só. aí sim, passei a conhecer-te por dentro, os teus tiques, as tuas manias, o significado dos teus olhares e das tuas palavras. pude tocar traços do teu rosto, enrolar os meus dedos nos teus caracóis, beijar-te a testa, sorrir-te e sentir que o meu coração também sorria por estarmos ali, colocar-te a mão sobre as costas, puxar-te e agarrar-te bem perto de mim, olhar as estrelas, o céu azul ou descobrir nas núvens figuras e letras ao teu lado, sentar-me num banco junto à ria e observar a sua ondulação enquanto trocávamos gestos e carícias...
como nada nem ninguém é perfeito, a ruptura não tardou em chegar. colocou barreiras entre nós e criou desentendimentos. possuíamos uma relação com os dois lados da moeda: inabaláveis ou muito próximos, ou muito frágeis e com um relacionamento incerto e que causava tremendo sofrimento. eramos de luas; mudavamos quando o sol se punha e voltávamos a mudar quando o sol surgia.
o nosso quotidiano nunca mais seria o mesmo, mesmo que por vontade o tencionássemos alterar. de todo impossível fazê-lo, somente podíamos lutar contra o sentimento. durante meses foi o que fizémos, entretanto a proximidade escolhía-nos de novo e a magia do nosso amor regressava. mais meses separados e acompanhados por outrém se passavam... até então o sentimento aqui estava, talvez apagado, não morto. em minutos, surpreendi-me, e com recordações senti que tudo rejubilara... o sorriso enquadrado na mútua felicidade era irreversível, e tudo o que havíamos passado, havia voltado. porém, os momentos eram dotados de maior maturidade e certezas. até que...