terça-feira, 24 de junho de 2008

ao milésimo centésimo quarto e sexagésimo segundo dia,

depois de tanto turbilhão, mantenho-me na solidão e corruído pelo sentimento. permaneces... seja em sonhos desvanecidos, seja nos cruzamentos do dia-a-dia, seja em pensamentos atribulados, misturados ou serenos. retorno sempre a ti, e não sei deveras o que se passa desse lado. incapaz de transpôr exactamente o que sinto, tento encontrar palavras que descrevam o que vivemos e todas as adversidades pelas quais passámos. no entanto, estas não caracterizam de forma minuciosa os sentimentos, os momentos, os planos concretizados e inacabados, os olhares e as brincadeiras. partilhar tudo com os demais não traz nada de notório ou novo, só aprofunda os teus reflexos dentro de mim e mostra o transbordo de distância que nos separa.
havia despedidas nossas que eram tristes, mas que nos aproximavam, pois sabiamos que o dia seguinte nos juntaria de novo. esta última foi uma despedida amarga e ao mesmo tempo triste. agora só queria aquelas que nos aproximavam e enalteciam o sentimento, aquelas que me faziam amar-te mais do que tu imaginavas e imaginas.
não é meu direito pedir-te para voltares, mas só ansiava fazê-lo. amo-te desde o primeiro dia. é recíproco? é meu desejo saber.

domingo, 8 de junho de 2008

sometimes it's more difficult than it seems.

quando penso em ti o tempo não pára, mas tudo se move como que em câmera lenta. os sentidos difundem-se, a calma estabiliza, o coração e a memória entram em sintonia e bombardeiam momentos em revista, a nossa banda sonora toca no meu ouvido como que a sussurrar, no céu as nuvens correm a pouquíssimos quilómetros por hora, o vento forte parece uma brisa suave. tudo parece descontrolado e pouco banal ou comum. as horas perdem-se e extinguem-se, à volta nada se foca, a minha pele arrepia-se, os meus olhos cerrados nada mais sentem a não ser a tua imaginada respiração, as minhas mãos sentem o quente das tuas por recordação, os meus abraços pressentem um abraço teu. no entanto, a telepatia do pensamento é uma incógnita. passados alguns segundos, sinto vontade de me abster, derrubar aquele mundo e voltar ao inultrapassável e repetitivo quotidiano. apesar do conhecido aforismo que diz quando o amor é correspondido o pensamento é mútuo e recíproco, também é algo dubitável, sobretudo quando a distância teima em alargar-se e afastar os corpos e a cumplicidade que já havia sido alcançada. não serão as palavras baratas, nem as caras, nem mesmo a eloquência que te trarão de volta. será, talvez, a conquista de batalhas desta guerra. a batalha de um simples e ao mesmo tempo complexo 'amo-te', a batalha do furto de um sincero e apaixonado beijo, a batalha de te agarrar a mão e não a largar mais, a batalha da união indestrutível. todas elas eu quero conquistar, para que mais não seja preciso eu isolar-me e constituir o mundo do tempo quase parado, mas sim, para que esse mundo seja ao teu lado, com os corações unidos num só e sem que seja necessário voltar ao tal banal quotidiano.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

sabes,

quando me recordo dos cenários que vivemos, das tristezas que nos encetaram pensamentos de força, da cor da tua íris e do teu pestanejar singelo e solene, da minha mão a sentir a vibração do teu músculo posicionado no peito, dos teus caracóis envoltos nos meus, das maneiras estonteantes com que nos ríamos, da simplicidade do teu toque e dos teus traços faciais, do meu tacto na tactilidade mágica das tuas mãos, do sentimento que nos unia e que espero que volte a unir e que de ténue e fraco nada tem, tem sim algo de robusto, possante e consistente, da surreal maneira com que os olhares transmitiam as intenções, o espírito e o estado da alma, das noites de permanente união a venerar os astros, do pôr-do-sol a incluir-nos na paisagem, das ondas a rebentarem-nos nos pés e das corridas para a areia onde iríamos rebolar, das tardes em que nos estendiamos horizontalmente na relva enamorados, apaixonados e fascinados a olhar o céu, quer estivesse cinzento, azul, amarelo, cor-de-rosa ou vermelho, dos nossos momentos destoantes e sem entendimento, das nossas lutas graduais e ininterruptas... eu rejubilo e ao mesmo tempo faleço. somos idênticos e almas gémeas: em cada traço que temos delineado, em cada gesto que personificamos, em cada sorriso que esboçamos, em cada discurso que elaboramos, em cada desentendimento que criamos, em cada olhar que lançamos, em tudo. desta recordação advêm as lágrimas, que percorrem a face e que se conjugam com a mágoa, a saudade e o sentimento de perda. estas provêm do teu canto e abrigo que aqui permanece desocupado e vazio. voltares não te traria qualquer arrependimento, seria tudo dotado de diferença e imprevisibilidade positiva, de curiosidade e de momentos sublimes, felizes e sobrenaturais. não é algo que me alegre, mas envolvo-me num conjunto de prolepses que suscitam ilusões e ao mesmo tempo esperanças. e espero por ti e por tudo aquilo que despertas em mim, sem cessar e sem hesitar. fascinas-me duma forma atroz e inexplicável, e é algo que acontecerá até ao meu último batimento cardíaco.