segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Após dias, dias, dias e dias...

A vida recua e avança num misto de sensações. As suas metáforas movem-nos e encaminham-nos. Fazem-nos pensar, ensinam-nos a ser pragmáticos e a tentar conhecer com uma certa relutância a verdadeira essência do rápido passar do tempo.
A aprendizagem depende das experiências, das exigências e daquilo que o destino nos reserva. Além disso, subordina-se com os caminhos que tomamos ao longo da nossa existência e escolhas que fazemos perante alternativas exequíveis, na tentativa de nos exonerarmos das adversidades da vida. O medo, o pânico, a angústia, que nos deixam desamparados e tomam conta de nós muitas vezes, nem sempre são sinal de um futuro não promissor. A alegria, o contentamento e a felicidade, que nos deixam eufóricos e a saltar mais alto do que devemos, nem sempre prometem que os dias que se seguem serão iguais ou melhores que os anteriores. A racionalidade perante tudo aquilo que de nós se aproxima é efectivamente importante. Nem sempre somos donos da nossa vida porque nem dela sabemos cuidar. Não conseguimos tomar conta dela, porque não sabemos o que fazer em cada situação. Não é incomum nem condenável, é natural.
É por isso que todos perdemos e todos ganhamos. Porque nem após dias, dias, dias e dias, meses, meses e meses, anos, anos e anos, aprendemos a lidar com tudo. Aparece sempre um novo e robusto enigma que enceta pensamentos de idiotice e não conhecimento da vida. Isto reside na inesperada conjuntura que surge sempre que viramos uma nova esquina. É um passo novo, um nível novo a atingir.

terça-feira, 8 de julho de 2008

(amo-te)

vejo-te vezes sem conta. detrás, dos lados ou à frente a tua sombra continua a perseguir-te. permaneço consciente daquilo que ela é e o que significou para mim, bem como consciente dos teus contornos, da tua silhueta que reconheço à distância e dos teus traços interiores. não quero nem consigo remar contra a maré, a tua presença incide dentro de mim com maior ângulo e ênfase que a desistência. endureces e solidificas o sentimento que persiste sem te aperceberes, e sem a devida correspondência só consigo olhar para tal acontecimento de uma forma enfadonha, não vigorosa ou energicamente.
não sei se te sentes nostálgica perante o passado, não sei se choras por não me teres ao teu lado, não sei se ainda sentes que vibras dentro de mim, não sei se ainda me amas tão robustamente como amavas. são dúvidas introspectivas, íntimas e intraváveis. pertencem a todos os meus (não) homogéneos dias, embora envolvidos na igualdade e monotonia.
quebrantado e melindrado, perco-me nos pensamentos e confundo-os, como se se tratasse de um turbilhão de coisas que nada em comum possuem. sarar todas estas advertências e dores é improvável e incerto.
só a tua companheira de todas as horas e tu me elevariam ou sublimariam, por aquilo que já foram para mim, pelos momentos já passados e pela cumplicidade que criaram, pela cor verdadeira dos teus e dos meus olhos, que só era alcançada quando, de forma espontânea, os contemplávamos mutuamente e intrinsicamente, pela força que me davas e continuas a dar sem te dares conta.
não sei se é recíproco, não sei quase nada - a não ser as últimas palavras proferidas.

terça-feira, 24 de junho de 2008

ao milésimo centésimo quarto e sexagésimo segundo dia,

depois de tanto turbilhão, mantenho-me na solidão e corruído pelo sentimento. permaneces... seja em sonhos desvanecidos, seja nos cruzamentos do dia-a-dia, seja em pensamentos atribulados, misturados ou serenos. retorno sempre a ti, e não sei deveras o que se passa desse lado. incapaz de transpôr exactamente o que sinto, tento encontrar palavras que descrevam o que vivemos e todas as adversidades pelas quais passámos. no entanto, estas não caracterizam de forma minuciosa os sentimentos, os momentos, os planos concretizados e inacabados, os olhares e as brincadeiras. partilhar tudo com os demais não traz nada de notório ou novo, só aprofunda os teus reflexos dentro de mim e mostra o transbordo de distância que nos separa.
havia despedidas nossas que eram tristes, mas que nos aproximavam, pois sabiamos que o dia seguinte nos juntaria de novo. esta última foi uma despedida amarga e ao mesmo tempo triste. agora só queria aquelas que nos aproximavam e enalteciam o sentimento, aquelas que me faziam amar-te mais do que tu imaginavas e imaginas.
não é meu direito pedir-te para voltares, mas só ansiava fazê-lo. amo-te desde o primeiro dia. é recíproco? é meu desejo saber.

domingo, 8 de junho de 2008

sometimes it's more difficult than it seems.

quando penso em ti o tempo não pára, mas tudo se move como que em câmera lenta. os sentidos difundem-se, a calma estabiliza, o coração e a memória entram em sintonia e bombardeiam momentos em revista, a nossa banda sonora toca no meu ouvido como que a sussurrar, no céu as nuvens correm a pouquíssimos quilómetros por hora, o vento forte parece uma brisa suave. tudo parece descontrolado e pouco banal ou comum. as horas perdem-se e extinguem-se, à volta nada se foca, a minha pele arrepia-se, os meus olhos cerrados nada mais sentem a não ser a tua imaginada respiração, as minhas mãos sentem o quente das tuas por recordação, os meus abraços pressentem um abraço teu. no entanto, a telepatia do pensamento é uma incógnita. passados alguns segundos, sinto vontade de me abster, derrubar aquele mundo e voltar ao inultrapassável e repetitivo quotidiano. apesar do conhecido aforismo que diz quando o amor é correspondido o pensamento é mútuo e recíproco, também é algo dubitável, sobretudo quando a distância teima em alargar-se e afastar os corpos e a cumplicidade que já havia sido alcançada. não serão as palavras baratas, nem as caras, nem mesmo a eloquência que te trarão de volta. será, talvez, a conquista de batalhas desta guerra. a batalha de um simples e ao mesmo tempo complexo 'amo-te', a batalha do furto de um sincero e apaixonado beijo, a batalha de te agarrar a mão e não a largar mais, a batalha da união indestrutível. todas elas eu quero conquistar, para que mais não seja preciso eu isolar-me e constituir o mundo do tempo quase parado, mas sim, para que esse mundo seja ao teu lado, com os corações unidos num só e sem que seja necessário voltar ao tal banal quotidiano.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

sabes,

quando me recordo dos cenários que vivemos, das tristezas que nos encetaram pensamentos de força, da cor da tua íris e do teu pestanejar singelo e solene, da minha mão a sentir a vibração do teu músculo posicionado no peito, dos teus caracóis envoltos nos meus, das maneiras estonteantes com que nos ríamos, da simplicidade do teu toque e dos teus traços faciais, do meu tacto na tactilidade mágica das tuas mãos, do sentimento que nos unia e que espero que volte a unir e que de ténue e fraco nada tem, tem sim algo de robusto, possante e consistente, da surreal maneira com que os olhares transmitiam as intenções, o espírito e o estado da alma, das noites de permanente união a venerar os astros, do pôr-do-sol a incluir-nos na paisagem, das ondas a rebentarem-nos nos pés e das corridas para a areia onde iríamos rebolar, das tardes em que nos estendiamos horizontalmente na relva enamorados, apaixonados e fascinados a olhar o céu, quer estivesse cinzento, azul, amarelo, cor-de-rosa ou vermelho, dos nossos momentos destoantes e sem entendimento, das nossas lutas graduais e ininterruptas... eu rejubilo e ao mesmo tempo faleço. somos idênticos e almas gémeas: em cada traço que temos delineado, em cada gesto que personificamos, em cada sorriso que esboçamos, em cada discurso que elaboramos, em cada desentendimento que criamos, em cada olhar que lançamos, em tudo. desta recordação advêm as lágrimas, que percorrem a face e que se conjugam com a mágoa, a saudade e o sentimento de perda. estas provêm do teu canto e abrigo que aqui permanece desocupado e vazio. voltares não te traria qualquer arrependimento, seria tudo dotado de diferença e imprevisibilidade positiva, de curiosidade e de momentos sublimes, felizes e sobrenaturais. não é algo que me alegre, mas envolvo-me num conjunto de prolepses que suscitam ilusões e ao mesmo tempo esperanças. e espero por ti e por tudo aquilo que despertas em mim, sem cessar e sem hesitar. fascinas-me duma forma atroz e inexplicável, e é algo que acontecerá até ao meu último batimento cardíaco.

domingo, 4 de maio de 2008

é...




amar deve ser dos poucos verbos sem caracterização exacta. amar é sinónimo de preserverança, esperança, perdão, sinceridade, luta, conquista, ânsia, felicidade, tristeza, incerteza, estabilidade. amar é... profundidade, saudade, crescimento, aprendizagem; é não recear o futuro, não temer o presente e não esquecer o passado; é ter o coração a bombear sorrisos e respirações quentes; é olhar o céu azul, o sol, as árvores, as nuvens e tudo o resto, e saber que o amor se repleta com muito mais cores; é olhar à volta e ter vontade de sorrir do nada; é caminhar sem cessar à procura de momentos inigualáveis; é correr e brincar junto ao mar e sentir que os dias ao lado de quem amamos são todos diferentes; é conhecer o nosso amor melhor que a palma da nossa mão; é rir e sentir que só essa pessoa nos ouve; é beijar e arrepiarmo-nos dos pés à cabeça; é entrelaçar as mãos e sentir que somos um só, sem possível quebra da nossa ligação; é batalhar pela relação sem pensar no amanhã; é conhecer cada gesto peculiar e o multiforme olhar; é suspirar a face e o pescoço e suscitar no outro um calafrio quente envolvido na paixão; é corar perante frases eloquentes e metafóricas; é não nos darmos conta do rápido fluir do tempo; é escrever e não perder as ideias, encadeá-las e personificá-las; é um jogo em que ambos ganham e o libido insertectado com a felicidade os fazem ultrapassar os mais difíceis níveis e obstáculos; é algo físico e espiritual... ansiar tocar cada traço do corpo do parceiro e ao mesmo tempo sublimar o coração de amor; é perder a conta das vezes que palpitamos quando nos abraçamos; é reter na nossa pele o perfume preferido do outro; é olhar olhos nos olhos e estimular pensamentos transmitidos telepaticamente; é perdoar os erros 'imperdoáveis'; é permanecer em silêncio dentro do bulício; é deixar as lágrimas cair nos momentos de despedida; é saber perder e saber ganhar; é algo sórdido e interesseiro quando se ama da boca para fora e não do coração; é luz, vivacidade e união. amar é não ter explicação nem fundamento, é lembrar o outro em qualquer direcção e perder controlo sobre nós, é não cessar nem desistir, é perdermo-nos e encontrarmo-nos. é tudo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

amor

bastaram segundos para me permaneceres na pele (para sempre?), sem possível retorno. tudo aconteceu numa banal tarde de verão, supunhamos. ao longe vi os contornos do teu sorriso e o esvoaçar dos teus caracóis com o vento a não sei quantos quilómetros por hora. magicamente, um singelo adeus a pequenos metros de distância mudou o nosso destino até então traçado. embora já nos conhecessemos, naquele momento pareceu amor à primeira vista e indescritívelmente era um sinal de que tempos únicos se aproximavam.
no início os sorrisos eram discretos e envergonhados, as palavras saíam com receio do impacto que pudessem causar, os olhares brilhavam como nunca antes tínhamos visto e os corações, esses já haviam sintonizado um no outro, já eramos um só. aí sim, passei a conhecer-te por dentro, os teus tiques, as tuas manias, o significado dos teus olhares e das tuas palavras. pude tocar traços do teu rosto, enrolar os meus dedos nos teus caracóis, beijar-te a testa, sorrir-te e sentir que o meu coração também sorria por estarmos ali, colocar-te a mão sobre as costas, puxar-te e agarrar-te bem perto de mim, olhar as estrelas, o céu azul ou descobrir nas núvens figuras e letras ao teu lado, sentar-me num banco junto à ria e observar a sua ondulação enquanto trocávamos gestos e carícias...
como nada nem ninguém é perfeito, a ruptura não tardou em chegar. colocou barreiras entre nós e criou desentendimentos. possuíamos uma relação com os dois lados da moeda: inabaláveis ou muito próximos, ou muito frágeis e com um relacionamento incerto e que causava tremendo sofrimento. eramos de luas; mudavamos quando o sol se punha e voltávamos a mudar quando o sol surgia.
o nosso quotidiano nunca mais seria o mesmo, mesmo que por vontade o tencionássemos alterar. de todo impossível fazê-lo, somente podíamos lutar contra o sentimento. durante meses foi o que fizémos, entretanto a proximidade escolhía-nos de novo e a magia do nosso amor regressava. mais meses separados e acompanhados por outrém se passavam... até então o sentimento aqui estava, talvez apagado, não morto. em minutos, surpreendi-me, e com recordações senti que tudo rejubilara... o sorriso enquadrado na mútua felicidade era irreversível, e tudo o que havíamos passado, havia voltado. porém, os momentos eram dotados de maior maturidade e certezas. até que...